segunda-feira, 28 de agosto de 2017
O Todomeu - A. C
Arianna tem 33 anos, mas o seu temperamento é deliciosamente infantil. Quando Giulio a conheceu, num dia triste para ambos, foi logo conquistado por esta criatura selvagem como uma menina abandonada, mas também lindíssima e sensual. Arianna entra na sua vida com naturalidade e ele oferece-lhe tudo o que ela pode desejar, incluindo aquilo que ele, graças a um grave acidente, já não pode dar-lhe...
Assim entram na rotina de ambos os encontros de quinta-feira: num apartamento ou numa cabana de praia, dependendo da estação, os homens que se encontram com Arianna, na presença de Giulio, têm de respeitar algumas regras invioláveis.
Na vida deste casal, não há portanto segredos. No entanto, de vez em quando, Giulio sente que alguma coisa lhe escapa: «Tu não me contaste tudo acerca de ti.» E assim é. Segredos, Arianna tem muitos, mas aquele que mais acarinha é o «todo-meu», uma «toca» escavada a um canto do sótão, como a pequena caverna onde se refugiava quando era pequena, no campo. É aí que vive a sua única amiga verdadeira: Stefania.
É claro que os jogos de Arianna e Giulio estão destinados a tornar-se perigosos com o tempo, até porque ela, como menina que é, nem sempre consegue distinguir bem o jogo da realidade.
A protagonista deste romance é extraordinária: inquietante no seu candor, resplandecendo com uma luz negríssima. E Camilleri escreve de uma maneira essencial, límpida, num jogo refinado e irónico que põe a nu os dramas burgueses e conduz o leitor por um labirinto erótico onde, como no mito de Arianna, vive um Minotauro que se alimenta dos desejos mais obscuros e inconfessáveis.
Uma leitura de um só fôlego, terrível e surpreendente.
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