Às vezes, o fogo que lambe e descola a pele que cobre os ossos dele se apaga. É o fogo dele. No longínquo recesso oculto de sua mente ainda capaz de um pensamento racional, ele acredita nisso. O fogo é dele porque foi ele que o alimentou durante séculos com seu corpo destruído e sua alma decaída. Há muitos e muitos anos – não dá para saber ao certo quanto tempo se passou –, a Horda dos Vampiros aprisionou-o nas catacumbas dos subterrâneos mais profundos sob as ruas de Paris. Ele está acorrentado a uma rocha, preso nela por dois pregos poderosos que atravessam argolas em torno de seus braços e outra mais no pescoço. Diante dele, um poço profundo transborda fogo e mais parece a entrada do inferno. Ali ele espera e sofre, como uma oferenda colocada diante de uma coluna de fogo que às vezes esmorece, mas nunca se apaga, exatamente como a sua vida. Sua existência se resume em queimar até a morte repetidas vezes, quando então sua teimosa imortalidade o faz reviver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.